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Fazer exercício não é natural

  • Foto do escritor: Bruno Montoro
    Bruno Montoro
  • 7 de abr. de 2016
  • 4 min de leitura

Fazer exercício não é natural

Fazer exercício não é natural. Sim, você não está lendo errado. Apesar deste ser um blog que fala sobre a importância do exercício e da atividade física para a saúde, eu não conseguia mais esconder essa informação do leitor. Mas antes de você, adepto do exercício fechar essa janela com raiva, ou você que adora fugir da academia compartilhar isso com um sorriso no rosto, deixe-me apresentar um ponto de vista diferente, mas baseado em ciência. Não estou dizendo que fazer exercício não é importante, pois, diversas agências governamentais e instituições internacionais trazem evidências da sua importância e recomendam o exercício como forma de manter a saúde e prevenir doenças. No Brasil a Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomenda a pratica de 150 minutos de exercícios por semana, é a mais utilizada.


O meu ponto é, que mesmo com todas as recomendações embasadas, o sedentarismo abrange 45,9% dos brasileiros, segundo pesquisa de 2013, e esse número vem aumentando. Quanto mais velho, mais sedentário. Segundo essa mesma pesquisa 80,4% conhecem os riscos de não se exercitar, e dão motivos como a falta de tempo, falta de motivação e preguiça como as causas. Um artigo, de 2012, aponta a falta de segurança (pelo hábito do brasileiro de realizar exercícios a noite), falta de áreas de lazer e a falta de dinheiro como causas primárias. Quando analisamos o estilo de vida do brasileiro estas questões fazem muito sentido e servem como causas para o sedentarismo, mas em um ponto de vista evolutivo são causas secundárias. Melhorar as áreas de lazer, dar mais segurança e facilitar o acesso a academias pode até ajudar a população, mas não vai “curar” a causa do sedentarismo. Eis que entra a hipótese da biologia: fazer exercício não é natural por que o cérebro é um preguiçoso convicto, e isso garantiu sua sobrevivência por muito tempo. Mas vou explicar com mais detalhes, para ficar mais claro.


O estilo de vida humano mudou drasticamente desde a revolução agrícola há 10.000 anos e mais ainda após a segunda guerra há aproximadamente 70 anos. Antes desses eventos, a escassez de alimento fazia com que nossos ancestrais se movimentassem para sobreviver. Caminhar e correr atrás do seu alimento, subir numa árvore em busca de mel ou frutas, cavar em busca de raízes ou água não eram opção, eram necessidade. Esse estilo de vida foi unanimidade por quase 3.000.000 de anos. Por esse motivo, o exercício como atividade prazerosa era opcional, sendo utilizado como brincadeiras, que serviam para ensinar as crianças a realizar as atividades dos adultos.


O problema é que não vivemos mais na savana, e todo o alimento necessário a sua sobrevivência está há alguns passos da sua sala, na cozinha. O cérebro, adaptado a savana, ainda percebe a “escassez” como primária para ativar a necessidade de movimento. Qualquer tentativa de exercício, em nosso ambiente farto de alimentos e extremamente adaptado ao conforto, é entendida pelo seu cérebro como um gasto desnecessário de energia, fazendo com que a preguiça e o sedentarismo sejam a regra em nossa sociedade.


Mas e os outros 54,1% ativos? Força de vontade. Pergunte a qualquer praticante de atividade física, que leva a sério sua atividade, o que o faz manter-se firme, e a resposta dele vai dar indícios de uma grande motivação e força de vontade que o mantém na ativa.


E isso não é uma má ideia, e realmente funciona, mas não pra todo mundo. Infelizmente, pelo nosso estilo de vida, precisamos constantemente lutar contra nosso ambiente sedentário e confortável apenas com a nossa força de vontade. Porém, nossa força de vontade é como um músculo, e fica cansada após um longo dia de trabalho, é por isso que tendemos a fugir da dieta no fim do dia ou comprar besteiras a mais no mercado quando estamos cansados e com fome. Quando resolvemos iniciar a academia após o expediente, estamos dando a seguinte mensagem pro cérebro: “gaste mais um pouco de energia sem motivo nenhum, que depois disso você recebe sua recompensa em forma de alimento e descanso”. O cérebro já sabe que o exercício não é pré-requisito, pois, o corpo de quem inicia uma atividade física normalmente já tem um acúmulo extra de gordura, e mesmo se não tivesse ele sabe que está inserido em um ambiente totalmente propício a sua sobrevivência, então, ele ignora a primeira parte da mensagem, e foca apenas no final, a recompensa. A força de vontade, então, precisa lutar contra dois oponentes: o ambiente e seu cérebro. E quem já iniciou e parou de fazer exercícios muitas vezes na vida sabe como é fácil perder essa luta.


A força de vontade não é a única maneira de estimular o exercício físico, mas é uma das mais conhecidas. Quando utilizada de forma errada pode gerar o efeito oposto e afastar o praticante da sua atividade (como pessoas que odeiam esportes por traumas na aula de educação física, na época do colégio, por exemplo). Existem outras formas de estimular o movimento nas suas atividades diárias “driblando” a economia excessiva imposta pelo cérebro. Mas isso fica para a segunda parte desse artigo.

REFERÊNCIAS


Duhigg, C. O Poder do Hábito - Por Que Fazemos o Que Fazemos na Vida e Nos Negócios. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.


Lieberman DE. Is Exercise Really Medicine? An Evolutionary Perspective. American College of Sports Medicine. 2015.


Lieberman, D. A história do corpo humano. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.


Lima DF et al. Recomendações para atividade física e saúde: consensos, controvérsias e ambiguidades. Rev Panam Salud Publica. 2014


Hallah, PC. Global physical activity levels: surveillance progress, pitfalls, and prospects. The Lancet. 2012


Ministério do Esporte. Diagnóstico Nacional do Esporte (Diesporte). 2015. http://goo.gl/KLK1NA

 
 
 

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Bruno Montoro
Quem sou

Bruno Montoro

Facilitador de Movimentação Natural.

Formação em Fisioterapia, especialização em Ortopedia e Traumatologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Formação em Fisioterapia & BioAntropologia (FBA), Método Busquet, liberação miofascial, treinamento funcional e outros. Facilitador do curso Livre de FBA.

Atende em Balneário Camboriú e Itajaí (SC) e presta workshops e palestras por todo o Brasil.

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